Sunday, June 18, 2006

LUÍSA DACOSTA


Sinto-me verdadeiramente empolgado na leitura das obras de Luísa Dacosta. Seus textos são autêntica prosa poética São metáforas de luz e som; arte de pintura e de harmonia musical.
Isabel A. Ferreira diz no seu Preâmbulo do livro “Luísa da Costa - no sonho, a liberdade” : (...) Foi a partir de então que comecei a render-me à força da narrativa de Luísa, límpida e ausente de lugares-comuns e parti para a descoberta daquela que escreve como quem faz renda, arrancando da palavra/bilro novas sonâncias encantatórias, que em nós ficam ecoando como vozes longínquas. Escrita/ pintura feita de palavras de água púrpura, rósea, anil, violeta que transforma os textos em recriadas aguarelas, e molda paisagens, seres, emoções e sentimentos...
“NA ÁGUA DO TEMPO – DIÁRIO” é um pouco da sua biografia, coligida de notas, de seus papeis arrumados pelas gavetas. Anotou, como por acaso , alguns factos que, por algum modo, entendeu dever registar.São coloridas peças literárias . A partir do ano 1948 até 1987 fala de suas numerosas viagens e estadas, casas onde morou, e A VER-O-MAR é uma das suas mais vincadas referências.
Para confirmar a riqueza metafórica da sua prosa poética, apenas uns pequenos excertos do prefácio que Luísa Dacosta, ele própria escreve:
Na água do tempo, um olhar naufragado. Nos limos das profundezas, que guardou da poeira dos dias ? Pouco... e ansiava a Luz. Nada tinha ficado do peso insuportável da desolação. Nada da gota, breve, da alegria (...)
(...)
O que era o amanhecer, lunar , das colinas do seio comparado às profundidades, nocturnas, do que estava para além dos sentidos: as dormências do que não sabemos pelo olhar e pela metáfora e são tumultuar obscuro? E depois, como decidir, era a sede dela que ele bebia, ou a sua própria sede que acalmava e procurava estancar ? O “outro” existe realmente ou somos ainda nós ? Ah! Tão apetecido corpo e tão talhada alma ! Noutras casas, depois noutros andares, que lhe mostrava o seu espelho interior ?
(...) - - Luísa Dacosta refere-se, muitas vezes, na terceira pessoa. Como que haja outro ente em seu próprio corpo.